Páginas

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Professor Peter Hunt e a literatura infantil.

Olá,

Faz tempo que não postamos nada aqui, mas hoje estamos passando uma reportagem que a Revista Nova Escola de agosto de 2011 fez com o professor Peter Hunt, primeiro critico sobre literatura infantil.


Entrevista com Peter Hunt

Pesquisador britânico destaca a complexidade e a riqueza dos textos feitos para crianças e fala sobre a validade de livros-brinquedo e daqueles que não têm sequer uma linha escrita

Ele foi um dos primeiros críticos contemporâneos a levantar a voz contra os preconceitos sobre os livros elaborados especialmente para as crianças. Professor emérito da Cardiff University, onde criou e ministra a disciplina de Literatura Infantil, a primeira do gênero na Grã-Bretanha, Peter Hunt lançou diversas obras sobre o assunto e recebeu prêmios importantes, como o International Brothers Grimm Award, concedido pelo International Institute for Childrens Literature, no Japão, para estudiosos de todo o mundo que fazem contribuições significativas para o progresso da pesquisa sobre a literatura infantil.

Em sua produção, o britânico vem contribuindo para elevar o nível da discussão sobre o tema, na tentativa de que ele passe a ser encarado com mais seriedade e rigor teórico pelos adultos - em especial, pelos autores e críticos da área, que muitas vezes subestimam a inteligência das crianças.

Durante recente visita ao Brasil, em virtude do lançamento do livro Crítica, Teoria e Literatura Infantil, Hunt concedeu esta entrevista à NOVA ESCOLA.

Para muitos, a literatura infantil é sinônimo de livros com letras grandes e várias figuras. Isso faz sentido?
PETER HUNT
De maneira alguma. Essa concepção existe porque, em diversas situações, os pequenos são subestimados pelos adultos. Entendo que, quando se está começando a ler, letras grandes e figuras podem facilitar a tarefa. Mas muita gente pensa que a literatura infantil tem de ser simples e objetiva só porque é para ser consumida pelos pequenos. Ainda hoje, as pessoas olham as obras infantis com certa indiferença, como se elas fossem inferiores. As únicas pessoas que as respeitam são aquelas que estão realmente próximas das crianças e sabem muito bem que elas não são criaturas estúpidas e sem opinião.

Por que a concepção de que a literatura infantil é inferior perdura?
HUNT
Muitas vezes, não se acredita que ela possa oferecer o mesmo tipo de prazer intelectual que a adulta. Além disso, em geral, presume-se que, por não ter uma vasta experiência cultural, a criança seja incapaz de fazer interpretações estéticas. Obviamente, um leitor inexperiente terá uma maneira diferente de apreciar um livro, as ilustrações e a história. Mas isso não significa que seja incapaz de fazê-lo.

Como definir literatura infantil?
HUNT
É aquela que contém alguma representação do autor a respeito da infância. Quem escreve faz isso pensando em uma criança real que conhece e em si próprio durante a infância ou baseia-se em várias ideias que formou sobre como são os pequenos em geral ou como poderiam ou deveriam ser. Porém, ainda que tente adaptar ou alterar seu estilo ou o conteúdo de um livro para uma linguagem que as crianças entendam, ele não pode deixar de ser um adulto enquanto escreve. É aí que está a missão desafiadora de fazer literatura infantil com qualidade.

Qual é a missão dela?
HUNT
Basicamente, expandir o universo dos pequenos em termos de conhecimento, de experiência e de emoções - o que já é uma tarefa árdua. Acredito que a literatura seja mais uma ferramenta para ajudá-los a crescer e se desenvolver com plenitude.

Diversos títulos clássicos, como Romeu e Julieta e Dom Quixote, têm sido reeditados em versões simplificadas para a criançada. Na sua opinião, isso é interessante?
HUNT
Eu costumava pensar que alterar o conteúdo e a linguagem de um texto clássico para torná-lo acessível aos pequenos era uma coisa natural a fazer, afinal os clássicos são bens públicos e parte importante da nossa cultura compartilhada. Há tempos, os livros têm de competir com vídeos e outras mídias. Além disso, a garotada está habituada a leituras mais simples e textos curtos, ou seja, o modo de ler os livros também está mudando. Portanto, se os leitores precisam ter algum conhecimento dos clássicos, eles têm de ser alterados, simplificados. Caso contrário, existe o perigo de eles não serem mais lidos até pelos adultos. Nessa perspectiva, qualquer versão é melhor do que nada. Porém, de uns tempos para cá, tenho repensado isso tudo. Acho cada vez mais que, ao simplificar um clássico, perdemos a essência da obra. O melhor seria então encontrar um caminho para ensinar as crianças a ler as versões originais, de modo que elas possam entendê-las no contexto em que foram escritas. O maior erro que podemos cometer é pensar os clássicos como atemporais, imaginar que eles permanecem atuais com o passar dos anos. Na realidade, eles são produtos do tempo em que foram escritos. Assim, todos vão precisar de informações a respeito deles para lê-los de maneira satisfatória. E nossa missão como educadores é fazer os estudantes perceberem como esse processo pode ser interessante e desafiador, não apenas um trabalho árduo.

A crítica literária de obras infantis costuma ser muito rebuscada e severa, deixando tanto as crianças quanto os adultos desnorteados na hora de escolher livros para ler. O que uma boa resenha deve considerar?
HUNT
A crítica literária positiva deve transmitir certo entusiasmo porque é fundamental que ela desperte o interesse do leitor em conhecer a obra. No entanto, escrever esse tipo de texto é uma das coisas mais difíceis do mundo porque é preciso discorrer de modo geral, para diversas pessoas desconhecidas, sobre uma experiência particular. A opinião sobre uma obra é algo que varia de uma pessoa para outra. Quando lemos uma crítica, estamos lendo a pessoa que está por trás dela. Daí, precisamos saber quem é ela, se é um crítico com experiência, se tem filhos e que idade eles têm, por exemplo. Afinal, a leitura de um mesmo livro pode ser feita de maneiras diferentes, a depender de quem o lê. Além disso, é interessante considerar que a crítica literária é geralmente feita por adultos e eles levam em conta as ideias que têm sobre as crianças, tal como ocorre com a escrita das obras.

E quanto às críticas escritas pelo público infantil?
HUNT
Elas são importantes e válidas e representam um grande desafio para quem as escreve. Esse tipo de texto envolve análise e julgamento, ou seja, é uma produção sofisticada e complexa até para adultos. As crianças são capazes de responder bem a uma pergunta, mas nem sempre conseguem explicar as respostas que formulam. Dizem gostar de algo, mas não conseguem expressar o motivo. Nesse ponto, o maior perigo é elas tentarem copiar as ideias dos adultos. Portanto, quando entregamos um livro a um pequeno e pedimos que elabore uma crítica, temos de ser cuidadosos e simplesmente pedir "conte-me um pouco sobre ele". Assim, poderemos obter uma resposta verdadeira e aí cabe ao adulto interpretá-la. Por isso, reforço que é preciso saber escutar a garotada. Como muitas coisas sobre a literatura infantil, esse é outro aspecto que à primeira vista parece fácil, mas não é.

Atualmente há muitos livros-brinquedo e do tipo pop-up. Alguns têm mais acessórios do que história. O que acha deles?
HUNT
Acredito que recursos como luzes, sons, ilustrações que saltam das páginas e gravuras com texturas são válidos na medida em que servem para aumentar o interesse pelo suporte livro. Minha única ressalva é que eles pressupõem um tipo de experiência de leitura muito diferente da convencional. A leitura de um livro-brinquedo proporciona um contato com três dimensões (altura, largura e profundidade) - e não apenas a decodificação de palavras. É uma experiência complexa. De qualquer forma, ele pode levar a criança a se interessar pelo modelo convencional, somente escrito e ilustrado, que oferece uma vivência diferente ao leitor.

Os livros que não têm texto são literatura também?
HUNT
É claro! No entanto, é preciso seguir regras e convenções específicas para lê-los. Eles não são, de forma alguma, simples de ler. Ao contrário. Quando há só imagens, são exigidas habilidades mais sofisticadas do leitor para a imaginação e a interpretação da história, quando ela existe, é claro.

O que um educador que trabalha com turmas de creche e pré-escola precisa considerar para escolher boas obras para os pequenos?
HUNT
As características e as preferências do grupo. Não existem simplesmente bons livros para a criançada. Existem títulos interessantes para cada turma. Recomendo que os docentes tenham coragem e confiança para fazer a seleção de acordo com o conhecimento que possuem sobre as crianças com quem convivem diariamente. Quais assuntos chamam a atenção delas? Quais são seus heróis? Elas gostam de animais ou preferem criaturas fantásticas?

Em seu livro Crítica, Teoria e Literatura Infantil, há a seguinte afirmação "as orações terminam com pontos finais. As histórias, não". Qual o sentido dela?
HUNT
Que é uma aspiração impossível saber com certeza como uma criança lê uma determinada história e como fará a interpretação dela. Nesse sentido, também afirmo que nenhuma história termina na última página. Da mesma forma, julgo no mínimo arbitrário supor que os pequenos desejam sempre histórias com final feliz para todos os personagens. A fantasia deles é muito maior que a dos adultos, além de ter alguns toques de insubordinação.


Fonte: Publicado em NOVA ESCOLA Edição 244, Agosto 2011. Título original: "A missão da literatura infantil é expandir o universo dos pequenos" - http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/entrevista-peter-hunt-639898.shtml?page=0#

Reportagem no Jornal O GLOBO!

Olá caros leitores!


Vejam que interessante, saímos em uma reportagem no Jornal O Globo: Os Agentes de Leitura e suas histórias.


Leiam, prestigiem os companheiros de ações e divulguem o Projeto, compartilhem com os amigos e outras pessoas conhecidas! Boa leitura a todos!

http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/post.asp?cod_post=399868
Espero que gostem!!!