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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ler para o bebê, sim!

Nunca é cedo demais para começar o incentivo à leitura. Mas só vale mesmo se for algo feito junto, despretensiosamente e com prazer

Cristiane Rogerio e Marina Vidigal


Uma das perguntas mais frequentes que os pais fazem à CRESCER, quando o assunto é incentivo à leitura com bebês, é: “Mas que tipo de livro eu posso ler para ele?”. Querem saber se valem histórias compridas, se os contos de fadas já são adequados... Afinal, ele vai entender ou não o que estamos contando? Para responder, há uma frase que soa quase como um tabu. Para um bebê até por volta de 1 ano, não importa o conteúdo da história. Ele pode até não compreender o dilema da princesa, quantos animais estão na fazenda ou dimensionar o tamanho da floresta: mas já sente o prazer em escutar.
A partir daí, há uma troca importante: a interação ente adulto e bebê. É por meio da modulação de seu tom de voz, da interpretação que você está dando à história que seu bebê vai conhecer o mundo. Assim também nasce a aquisição da linguagem e a construção do pensamento. A experiência, então, fica na memória. “O bebê reúne a maneira de falar da mãe e essa informação sensorial vai criando o que chamamos de ‘marcas’ no cérebro dele”, diz a fonoaudióloga Erika Parlato-Oliveira, professora-adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora científica do Instituto Langage, ONG sediada em São Paulo que trabalha questões relacionadas à linguagem. E como isso faz parte do desenvolvimento, deve acontecer da maneira mais natural possível. “Não precisa ficar mostrando as palavras isoladas para a criança. No mundo não é assim, a gente não aprende assim e nem seria interessante para ninguém”, afirma a psicóloga Ana Carolina Carvalho, que trabalha há 11 anos com formação de educadores em incentivo à leitura.
As ilustrações – e aprender a lê-las – são fundamentais nesse incentivo. E não estamos falando apenas dos livros-brinquedos (que têm mesmo mais a função de brincar com a criança), mas da sensibilização da criança a essa arte, inclusive. Chamam mais atenção as ilustrações grandes, muito coloridas ou edições com formatos diferentes, por exemplo. “Mas deve-se oferecer livros com ilustrações bem trabalhadas, que não sejam óbvias, vão além da história e, sobretudo, sem estereótipos”, afirma Ana Carolina. “Também na leitura das imagens não devemos nunca menosprezar a capacidade da criança.”
Há quem defenda a leitura em voz alta como prática desde a gestação. Na casa da jornalista e escritora Alessandra Roscoe, os resultados disso ela vê na relação com os três filhos – Beatriz, 12 anos, Felipe, 8, e Luisa, 5 – apaixonados por livros. “Fortaleceu o vínculo entre eles. A Bia e o Felipe tiravam par ou ímpar para ver quem iria contar a ‘história da barriga do dia’”, diz Alessandra, que promove oficinas de leituras para crianças, idosos e casais grávidos em Brasília, onde mora. “A partir da 23ª semana de gestação, o bebê ouve o que acontece fora do útero e consegue processar uma leitura feita pela mãe”, afirma Erika, que organiza em julho deste ano o II Seminário Internacional Transdisciplinar sobre o Bebê, em Paris.
O QUE LER, COMO LER

Poesias, histórias de repetição, tudo que envolva mais musicalidade ou puxe sua garra por contar uma história está valendo. “As diferentes formas de leitura, as pausas, o virar das páginas, a mudança de um parágrafo, ensinam o bebê a lidar com os momentos de silêncio mas que são em sua maioria cheios de sentidos. Bebês adoram brincar de esconder, é um meio de elaborar as ausências. Quando adquirem a destreza motora, adoram virar as páginas e descobrir o que virá e o que se foi”, diz Karina Bonalume, psicóloga com especialização em clínica interdisciplinar com bebês, pela PUC-SP. Portanto, não espere nem mais um minuto e divirta-se!
E NA PRÁTICA...
Na hora de apresentar um livro, escolha histórias curtas, mas que tenham um enredo que você também goste

Prepare o ambiente, coloque o bebê no colo e conte a história sem pressa

Bebês adoram histórias com repetição, grandes ilustrações, poemas e brincadeiras com palavras

Embora conheçam tudo com as mãos e a boca, não quer dizer que só precise ser de plástico para não estragar. Vá, aos poucos, ensinando que livro não se põe na boca, não se rabisca, nem rasga...


Fonte: Revista Crescer < http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI236743-10473,00-LER+PARA+O+BEBE+SIM.html >

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